TRABALHO EM GRUPO
O trabalho em grupo, dentro ou fora da aula, pode fornecer melhor
rendimento intelectual e é um valioso contributo para a formação da
personalidade. Nesse sentido, e apesar das dificuldades, continua a ser uma
necessidade, mais do que moda ou mania de certas pessoas.
A aprendizagem exige muito esforço individual e solitário. Mas há
momentos em que o estudante ganha mais se cooperar com amigos motivados e
responsáveis. Estudo individual e trabalho em grupo não se excluem. Sãocomplementares.
TRABALHO EM GRUPO
·
A escolha dos colegas
A primeira condição para ter sucesso no trabalho em grupo é a
escolha adequada dos colegas que vão integrar a equipa. Há ocasiões em que é o
professor que agrupa os estudantes e lhes dá todas as indicações sobre os
objectivos e a metodologia do trabalho. Porém, muitos professores limitam-se a
propor os temas e deixam liberdade para a escolha dos elementos do grupo. São
os alunos que se auto-seleccionam e autodirigem, embora possam contar com o conselho
experiente do professor.
O tamanho do grupo depende do tipo de trabalho e dos objectivos a
atingir. O grupo deve ser suficientemente numeroso para assegurar a realização
das tarefas. Em todo o caso, esse número não deverá ultrapassar as cinco
pessoas, a fim de permitir a participação activa de todos nas discussões e
decisões. Há quem indique o número três como ideal para a maioria
dos trabalhos escolares.
Não é tanto o número de elementos do grupo que está em causa. O
que está em causa é, acima de tudo, o perfil das pessoas a seleccionar. Sabe-se
que, no grupo, as pessoas exercem influência recíproca. Assim, quanto melhor
for o grupo, mais benéfica será a sua influência sobre o comportamento
individual.
·
Amigos
Quando a selecção depende, em exclusivo, do próprio estudante, a
tendência natural é deixar-se atrair pelos amigos. Uma pessoa sente-se melhor e
colabora mais espontaneamente na companhia daqueles de quem gosta.
Mas serão
os amigos a melhor escolha? Os bons amigos da brincadeira, do convívio ou do
desporto farão mais e melhor trabalho? Nem sempre assim acontece, como sabemos.
Deste modo, escolher colegas de grupo, com base apenas no critério de amizade,
pode ser prejudicial.
Antes de
seleccionar um amigo, impõe-se a resposta honesta a perguntas como estas: será
ele estimulante ou paralisante? Será ele um apoio ou um empecilho? Com ele, vou
subir ou descer de nível? O seu objectivo será ter um grupo para trabalhar ou para
conviver? Ele quer trabalhar comigo ou quer que eu faça o trabalho dele?
As
respostas a estas perguntas não implicam pôr de parte os amigos sobretudo se eles
precisam de ajuda. É uma virtude ser-se generoso e estar-se disponível para
ajudar os outros. Porém, é necessário ponderar as opções, para que não haja
surpresas desagradáveis.
Na
realização de um trabalho sério, os melhores aliados são os colegas
motivados
e responsáveis.
·
Motivados
Há toda a vantagem em escolher para cada disciplina os colegas
mais
interessados
na matéria, o que implica a hipótese de mudar de grupo em trabalhos de disciplinas
diferentes. A companhia ideal para um trabalho de Matemática pode ser apenas
sofrível para um trabalho de Português.
A
companhia dos melhores alunos é estimulante, porque oferece um bom exemplo a
seguir. Ao lado de colegas motivados, descobrem-se novos motivos de interesse.
A companhia dos bons faz-nos desejar ser melhores.
Para que os alunos fracos não fiquem sempre com outros fracos, é
de louvar que os melhores alunos tomem a iniciativa de se unirem aos colegas
que mais precisam de ajuda. Fica bem a um bom aluno esse gesto de simpatia e
solidariedade.
·
Responsáveis
Deve ser
evitada a companhia dos colegas individualistas e irresponsáveis que descansam
no esforço alheio. Uns são simples tagarelas que apenas «mandam palpites» superficiais,
incapazes de colaborar seriamente no trabalho colectivo Outros têm mesmo a
deslealdade de assinar aquilo que foi feito pelos colegas.
Afinal,
agem como «parasitas», querendo partilhar os benefícios do grupo, mas não se mostrando
disponíveis para cooperar. Empobrecem o grupo. Não merecem confiança. Os
participantes responsáveis respeitam compromissos assumidos e procuram
cumprir as tarefas que lhes são confiadas. Enriquecem o grupo. Merecem confiança.
·
A realização do trabalho
As pessoas integram-se num grupo tendo em vista a realização de um
trabalho concreto, por meio de um esforço organizado.
O trabalho
em grupo pode produzir sentimentos de vergonha ou de orgulho.
Vergonha,
quando há resultados deficientes. Orgulho, quando o grupo realiza as tarefas com
êxito. Para que a cooperação seja eficaz e os elementos sintam orgulho do seu
trabalho, é fundamental que o grupo tenha método de trabalho, isto é,
saiba definir
objectivos,
distribuir tarefas e estabelecer regras.
·
Definir objectivos
Definir os objectivos do trabalho é condição para o êxito. Um
grupo de êxito tem objectivos claros, compreendidos e aceites por todos os seus
elementos. Tornasse, pois, necessário saber o que se pretende
atingir, antes de iniciar a realização de qualquer tarefa, seja ela
proposta pelo professor ou da iniciativa dos alunos. Com objectivos
comuns, claros e precisos, os membros do grupo cooperam mais facilmente,
permanecem unidos e resistem aos obstáculos. Em menos tempo e com menor
dispêndio de energias, produzem melhores resultados. Sem objectivos
rigorosos, ninguém sabe ao certo para onde caminha. Assim, a cooperação
enfraquece e pode gerar-se um clima de tensões e conflitos entre os membros
do grupo.
·
Distribuir tarefas
Definidos os objectivos, chega o momento da distribuição de tarefa
e responsabilidades entre os vários participantes. Quando o professor deixa liberdade
ao grupo, são possíveis três processos para distribuir as tarefas:
1. Cada
elemento selecciona um aspecto particular do trabalho que deseja realizar.
2. Os
elementos discutem e decidem, por consenso, a divisão do trabalho.
3. Os
elementos escolhem, entre si, um líder ou aceitam um que se ofereça, dispondo-se
a seguir as suas orientações. Com a distribuição de tarefas, feita na base da
confiança mútua, cada pessoa fica a saber qual a sua função específica e qual a
função dos seus colegas. É natural que, assim, dê um contributo mais eficaz,
sem desperdício de tempo ou de energias. Todos os participantes são chamados
a cooperar, de modo activo, empenhado e responsável, para atingir
objectivos comuns. Da atitude individual dependerá o sucesso ou o insucesso
do grupo.
·
Estabelecer regras
O que aconteceria num concerto se cada elemento de uma orquestra
tocasse a música ao ritmo que lhe desse jeito? E o que aconteceria num grupo se
cada pessoa procedesse ao sabor dos seus impulsos momentâneos, sem qualquer
preocupação com os interesses alheios? Cada um de nós pode imaginar! O
equilíbrio de um grupo exige regras. Sem elas fica comprometida a realização
de um trabalho colectivo e podem complicar-se as relações humanas. Quando não
existem regras «ditadas» pelo professor ou pelo líder os participantes devem
estabelecer, entre si, um acordo mínimo sobre o modo de funcionar e os prazos a
cumprir. A existência de regras claras e aceites por todos ao contrário do que
algumas pessoas julgam, só vem facilitar a coesão do grupo, o trabalho e as
relações humanas. Havendo regras, todos sabem a disciplina a que têm de
obedecer podem prever o resultado das suas atitudes. Naturalmente, não deve
tolerar-se fuga às regras mínimas estabelecidas por consenso. Ao
líder cabe, muitas vezes, a tarefa de fazer respeitar as normas.
·
A liderança
Quase todos os grupos organizados têm um líder formal ou informal.
Quanto maior for o grupo, maior será a necessidade de um líder.
Nos pequenos
grupos, a liderança ou chefia está, em geral, a cargo da pessoa que espontaneamente
exerce sobre os outros uma influência directiva que eles aceitam.
·
Funções do líder
Resumem-se
em três as funções essenciais do líder:
Motivar
o grupo para a realização das tarefas, nos prazos previstos.
Criar
um espaço favorável à participação livre de todos os elementos,
estimulando os tímidos e controlando os
faladores e indisciplinados.
Facilitar
a comunicação interpessoal, sendo mediador imparcial (não
juiz) nos
eventuais conflitos.
Do desempenho correcto da liderança depende a coesão e
sobrevivência do grupo e a cooperação entre os seus membros.
A
liderança é uma função de responsabilidade que não pode ser confiada a qualquer
pessoa que goste ou se ache com jeito para chefiar. Exige-se conhecimento
mínimo dos assuntos a tratar, domínio das técnicas de liderança,
personalidade forte, capacidade mobilizadora e, acima de tudo, boa
relação humana. O líder não precisa de ser querido de todos, mas não
deve ser rejeitado por nenhum elemento do grupo.
·
Estilos de chefia
Existem três tipos de chefia: o não-directivo, o autoritário
e o democrático. No puro estilo não-directivo,
o líder é um liberal que «deixa andar» as coisas. Cada membro do grupo tem
liberdade (quase) total para fazer o que quer, quando lhe apetece. É como se
não existisse liderança.
No estilo autoritário, o líder é um
monopolizador. Concentra em si todo o poder de decisão e controla os outros
membros. Exerce um estilo de orientação rígido que não dá espaço à participação
livre. No estilo democrático, a
definição dos objectivos é feita por todos os membros e as regras de
funcionamento são flexíveis. Sem esquecer a sua responsabilidade de «manter a
disciplina», o líder apela à participação e criatividade individuais.
Os grupos
com uma chefia de tipo autoritário produzem, em geral, trabalho em maior
quantidade, mas em menor qualidade, do que os grupos com uma chefia de tipo democrático.
Acima de tudo, convirá sublinhar que, num clima participativo o trabalho é realizado
com maior satisfação. De facto, os estilos não-directivo e autoritário são fontes
de frustrações e agressividade.
Em
situações excepcionais, pode tornar-se aconselhável um estilo mais autoritário
em relação a um ou outro elemento menos cumpridor, para que o trabalho se realize,
dentro dos moldes acordados, sem prejuízo para o grupo. O líder não pode tolerar
desvios em relação ao que foi estabelecido e aceite por todos os elementos de
um grupo.
No grupo, o diálogo é a única via positiva para conciliar
interesses e dar soluçãoa eventuais conflitos. Apenas o diálogo consegue
ultrapassar divergências e torna possível o acordo entre as pessoas. Como diz o
povo: «a falar é que a gente se entende». Para construir um clima agradável e
simpático, vamos lembrar, seguidamente, algumas regras de ouro da convivência
humana.
·
Escutar os outros
Um dos maiores segredos da relação humana é saber escutar os
outros sem os interromper desnecessariamente. Todas as pessoas gostam de falar
e de ter ouvintes atentos e interessados. Aquele que se dispõe a escutar
manifesta consideração pelos outros e, desse modo, conquista a sua amizade.
·
Ter autodomínio
O
autodomínio é uma força interior que nos leva a controlar impulsos
momentâneos.
A falta de autodomínio pode, algumas vezes, magoar os outros e gerar conflitos
evitáveis. A comunicação entre as pessoas deve ser aberta e livre, mas é um
erro satisfazer o amor-próprio, fazendo ou dizendo tudo o que apetece, sem
medir os efeitos.
·
Ser tolerante
A tolerância é a capacidade de compreender e perdoar as limitações
alheias, o que implica não ser mais exigente com os outros do que consigo
mesmo.
Uma
pessoa tolerante sabe que «errar é humano» e, por isso, não censura nem ridiculariza
os outros, à mínima falta. Dá sempre uma segunda oportunidade.
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Corrigir sem ofender
Corrigir sem ofender significa usar tacto e delicadeza, quando
temos de manifestar a alguém as nossas discordâncias.
Nada
justifica que se agrida ou humilhe outra pessoa, só porque não se concorda com
as suas ideias. As ideias podem ser discutidas, mas as pessoas, mesmo as menos simpáticas,
merecem ser respeitadas.
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Oferecer elogios
As pessoas simpáticas não se limitam a criticar o que está mal.
Descobrem sempre a forma de apreciar o que é positivo.
Oferecer
um elogio merecido é um sinal claro da nossa estima pelos outros. É um
incentivo particularmente importante para os tímidos ou inferiorizados.
·
Usar o bom humor
Rir não é incompatível com o trabalho, desde que não se
ultrapassem certos limites. O bom humor facilita a comunicação entre as
pessoas. Acalma e descontrai nos momentos de tensão.
É sempre
bem recebida uma pessoa sorridente e bem-humorada que tenta criar à sua volta
um clima de alegria.
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O êxito dos grupos
O êxito dos grupos não reside apenas no combate à monotonia do
estudo solitário. Os grupos de êxito beneficiam o rendimento intelectual e a
formação da personalidade.
·
0 rendimento intelectual
Quando duas ou mais pessoas fazem «acordos de cooperação» no
estudo, isto é,se comprometem, se estimulam e se controlam mutuamente, o
rendimento intelectual tende a aumentar.
Em grupo,
os indivíduos interessados ajudam os outros a descobrir novos motivos de
interesse. Os membros entusiasmados acabam por contagiar e encorajar os colegas
desanimados. Com a sua motivação, «forçam» os outros a subir de rendimento.
Num grupo empenhado, onde cada elemento dá a sua contribuição
responsável,surgem sempre novas perspectivas e novas soluções sobre os
assuntos, o que permite desenvolver a competência dos participantes.
O simples
debate de ideias, a reflexão partilhada, faz progredir a aprendizagem.
Comunicar
e discutir ideias é uma maneira prática de consolidar os conhecimentos. De facto,
uma pessoa aprende e recorda melhor aquilo de que fala do que aquilo que apenas
escuta ou lê.
A
colaboração solidária entre alunos com capacidades e interesses
diferentes é uma prevenção contra a doença do individualismo e os excessos
de competitividade.
Adquirir e aperfeiçoar um saudável espírito de equipa na escola
indispensável
para a
própria vida profissional. De facto, cada vez mais se verifica que os grandes projectos
e as grandes realizações são obra de grandes equipas. O sucesso, hoje, nasce da
aptidão para trabalhar em grupo.
·
Síntese
Se deseja
tirar partido das vantagens do trabalho em grupo
Junte-se
a colegas motivados e responsáveis.
Defina,
com clareza e rigor, os objectivos do trabalho.
Cumpra,
com lealdade, as tarefas e responsabilidades que lhe forem distribuídas.
Seja um
líder democrático, sempre que tiver a função de chefia do grupo.
Estabeleça,
com os seus companheiros, regras mínimas de funcionamento.
Cultive
boas relações humanas.
Evite
discussões e agressões.
Prefira o diálogo para resolver os conflitos.
ELABORADO POR : F. ESMÉNIO FERREIRA
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